domingo, 13 de dezembro de 2009

Vida

O vento sopra melodia em dia calmo.
Os galhos, maestros regem a sinfonia natural,
Que só toca em quem sente.

Árvores fazem desenhos de folhas caídas,
No que antes era chão.
Sol, estrelas... iluminam o palco,
Que quase ninguém vê.

Os pássaros incansáveis anunciam o espetáculo!
Raro público tocado pelo simples.

Pessoas se prendem, percebendo defeitos em pessoas.
Mas o maior erro, não sentir...

Natália Possas

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O que importa

Tereza acordou bem, apesar do sonho. As imagens, que pareciam tão reais, fugiram. E as sensações eram brados em silêncio. Vestiu a habitual malha branca esfarrapada, e, nesse dia, deixou a cama por fazer. Prendeu os cabelos grisalhos e curtos com um arco velho, de plástico descascado. Não quis comer. Pela janela, com vista para o jardim simples, viu flores caídas. A madrugada foi acalantada pela chuva. O dia estava claro, sem sol. No mural de fotos, feito de cortiça, desordem. O último vento derrubou a maioria dos retratos, e sua desorganização não permitiu alterações. Havia empilhado as fotos caídas. Todas eram em preto e branco.

A sensação, que não podia ser traduzida, voltou. Atrás da cômoda de madeira havia outra fotografia caída, que já estava empoeirada. Na imagem antiga, um abraço de quem dava colo. A amparada era Dulce: menina linda, de olhos azuis brilhantes de choro, que todos evitavam. Tereza era a única que sabia transformar o brilho de lágrimas em alegria. E isso era infinitamente mais fácil do que muitos pensavam: ela sabia ouvir, enquanto os demais somente escutavam. A menina triste era sempre interrompida pelo que o outro tinha a dizer. Tereza, sempre a olhava atentamente nos olhos, enquanto o azul ficava mais brilhante e vivo, e entendia até as frases mudas. Dulce era importante ao lado da amiga.

Tereza ouviu alguém bater palmas na varanda. Era um vizinho. Homem simpático, que lhe deu uma carta, erroneamente entregue a ele. Fez questão de se desculpar pela demora na devolução. Tereza voltou ao quarto e abriu a correspondência. Nesse momento, a sensação pôde ser traduzida. Ela soltou os cabelos sem pentear, vestiu uma saia preta, que ia até os joelhos, blusa discretamente estampada, sapatilha preta, um casaco azul desbotado e saiu. Foi olhar novamente nos olhos da amiga.



Natália Possas - foto e texto

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Presente

É a primeira vez que posto algo não escrito por mim. Esse texto, que dialoga com o meu "Era uma vez", foi presente de um amigo. Ele postou em seu blog: fredfonsecaeseusalfredos.blogspot.com. Acessem, e descobrirão textos maravilhosos, que revelam várias faces de um cara interessante.

Aos passos de Natália Possas

Nada é tão previsível quanto a vontade de escrever e tão imprevisível quanto o hábito de reler os velhos escritos. É nessa aventura de releituras que misturamos nossos próprios mundos, o de hoje com o de ontem, e vemos que nos perdemos pensando se nos transformamos demais! Daí vem a "reviravolta boa" que nos organiza, direciona e relaxa. E descobrimos que o velho microfone foi deixado por nos mesmos no canto do vago palco, que agora limparemos pra bradar no volume 10 todos nossos anseios escritos!

Mãos a obra!

Alfredo Braga

sábado, 14 de novembro de 2009

Era uma vez

Inventação. Complicamento. Não existem. E daí? São compreendidas mesmo assim. Naquela tarde, e por muito tempo, alguém não entendeu o sentido do que era real, e misturou os mundos sem saber qual era o seu, sem ter entendido o outro. O imprevisível chama as sensações, traz reviravolta boa, e atrai o diferente.

Naquela tarde, e desde então, o previsível entoou seus versos, que ainda estão lá. A poesia subiu ao palco mal iluminado. E o microfone, que já não funciona tão bem, ainda está num canto sem poeira. Por pouco tempo.

Natália Possas

domingo, 1 de novembro de 2009

Despretensiosa



Esboço de idéias...
Despreocupada com impressões.
Só quero ser...
Agora!

Hum, momento especial...
Não quero me preocupar
E não estou.
É tão bom isso...

Estou apenas pra mim,
Pra um sorriso sincero,
Um gesto espontâneo.
Ah, uma festa!

Celebrar a mim!
Tudo!
Esse momento,
Essa paz,
Equilíbrio...

Mas um desequilíbrio...
Faz um bem...
Paradoxos precisam ser bem vividos!
É isso.

Ah, não se preocupe em me entender.
Apenas relaxe...

Natália Possas

domingo, 25 de outubro de 2009

É isso


Depois de alguns rabiscos na memória venho escrever algo que ainda não sei bem o quê. Posso falar das estrelas que hoje eu não vi, da lua que não está cheia, do quintal com muitas plantas, do meu mural de fotos, do que faz parte dele, ou do que eu queria que fizesse. Posso falar das festas que não fui, das flores que não recebi, dos amigos que ainda não fiz, dos caminhos que ainda não conquistei e da inspiração que não tive. Mas não decidi.

Preciso ler o que não depende só de mim pra ser escrito. Quero ser o que eu sou, com o que eu ainda vou ser, mas agora! Paciência nós aprendemos e faz bem. Mas, nem sempre é necessária. Tenho pressa de ver quem está à minha volta bem. Sei que posso ajudar com palavras, um abraço, um sorriso... mas isso, só ajuda a acalmar o coração. Quando se trata apenas de mim, me atraco com os conflitos. Se eles me deixam no chão, eu aproveito pra esticar o corpo, relaxar e alongar pra preparar um pulo.

E eu sempre arrumo um jeito de ser feliz. Mesmo quando me arrumam vários jeitos de não ser.

Natália Possas

sábado, 17 de outubro de 2009

Interpretações


Palavras podem ser apenas palavras.

Mas podem ser sentimentos,
Significado,
Sentido...
Ou a falta deles.

O que é dito, pode não fazer a menor diferença.
Pessoas dizem a todo momento,
Mas nem sempre sentem.

Muitos sentem sem falar,
Falam o que pensam sentir,
Sentem o que não sabem traduzir...

Mas nem tudo precisa de tradução.
Temos instinto.
Ele nos ajuda a realizar tanto sem sabermos...

Por isso muitas vezes vemos algo dando errado,
Lamentamos por isso.
Depois vem um acerto!
É porque antes, não tinha dado errado.

Natália Possas

domingo, 13 de setembro de 2009

Álbum


Precisava não ficar em casa. Mas sem baladas nem festas. Os últimos acontecimentos não permitiam comemorações. Duas pessoas importantes, para amigas minhas, faleceram. E eu tinha um trabalho da faculdade perfeito para aquele momento: tirar fotos!


Fomos eu e Vanessa, também conhecida como espasmódica ou magrela. Mas isso eu explico depois, provavelmente em um texto que eu for tratar de pessoas espontâneas, muito espontâneas. Mas voltando ao assunto, "cenas urbanas" era o nosso tema. Uma câmera, duas cabeças com idéias surgindo e uma cidade inteira de possibilidades. Andamos, andamos mais e muito mais. Detalhes, olhares, situações engraçadas, gafes, momentos de paciência, fotos perdidas pela inexperiência, outras conseguidas pela cara-de-pau, pela sorte, ou por simplesmente estarmos no momento e lugar certos. Inúmeras percepções tentando fugir do obvio e buscando o diferente na simplicidade. Mas o que mais chamou nossa atenção foi o que sempre esteve lá, à espera de um olhar. Cenários de lugares e de gente, histórias esperando pra serem ouvidas.

Uma cena perfeita para o que queríamos, porém lamentável: pessoas morando às margens do Rio Paraíbuna. Havia dois rapazes dormindo, outro arrumando a "casa”, uma mulher, de pensamento longe, com olhar em direção ao Rio, e outro homem observando todos. “Foto pra quê”, disse a senhora. O homem que observava tentou intermediar o diálogo. Depois de alguma conversa, cinco reais era o preço. Claro que, se comparado ao cachê de modelos fotográficos, ou a qualquer outra coisa, um valor ínfimo, até miserável. O problema é o que esta situação representa. Era a forma de ganharem algo com a miséria particular, de usarem suas necessidades em proveito próprio, de explorarem a si mesmos. Quando alguém começa a se explorar, é porque perdeu todas as outras possibilidades. O que poderíamos fazer nesta situação? Sempre acreditei que o diálogo fosse a base de tudo. Nesse caso não foi. Mas, nos permitiu conhecer a história de Jefferson, o homem que tentou nos ajudar com as fotos. Ele veio do Rio de Janeiro, e hoje, mora às margens de outro Rio. Foi assaltado, quando chegou aqui com a intenção de trabalhar, e sem dinheiro para voltar, foi para as ruas. “Aqui, tem os que mandam mais. Então, fico perto daquele cara, porque ele me protege. Estou esperando receber o meu PIS, pra poder voltar pra casa”. Ele conta que começou a escrever: “o livro é sobre o que eu tenho vivido, e quando eu puder, quero voltar aqui, e fotografar por onde eu passei”.

Em uma outra foto, alguém se aproximou, por necessidade de dividir algo. Era um travesti, que também disse se chamar Vanessa. Sua vida e conflitos foram despejados sem nenhuma pergunta. Seu olhar era triste. “Fui expulsa de casa, minhas amigas estão mortas, algumas foram assassinadas. Elas faziam a vida".

Quando você está com uma câmera, as pessoas pensam que você tem o poder de fazer algo por elas e derramam de uma vez, memórias e caminhos através de palavras e olhares. Nós, só podíamos ouvir, e acrescentar a sorte delas em nosso baú, que sempre está aberto e em busca de conhecimento. Todos temos o que expressar. Nossas atitudes são conseqüências de um contexto, mesmo que ele esteja em algum lugar muito longe em nosso passado. Ouvir e observar afinam a sensibilidade.

Voltamos para casa exaltas. A Vanessa foi brindar com amigos em um aniversário, e eu vim compartilhar percepções.

Natália Possas

sábado, 29 de agosto de 2009

Paisagem de mim




Caminho que quero sem saber, mas sei.
Sinestesia, calma, desassossego, cor, vida...

O céu é a chegada da subida,
O mar me encontra em linha reta.
Os dois se unem além do horizonte.

Aprendi a subir...
Apesar do vento,
Apesar do caminho.

Aprendi a descer...
E chegar ao mar.

Anoiteceu...
E o pôr-do-sol trouxe vida aos sentidos.
A parte boa do que parecia não ter.
Se não tem... não há razão.

A onda quebra, mas acalma com o som.
O vento vai embora levando o que eu não quero mais.
A onda devolve.

O vento é sutil,
A onda é forte.
O som é o ponto de equilíbrio.
A água molda o caminho.

Amanhã tem mais céu azul,
Cheiro, som,
Surpresas...
E tudo mais que eu puder perceber.

Natália Possas - foto e poema

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Devaneios



Janela de sentidos, poesia, pensamentos, sons...
O meu mundo, o que eu quero, e o que eu preciso.
No mais, vou sentir o que eu não posso entender.

Natália Possas - foto e poema

sexta-feira, 31 de julho de 2009

O que falta


Sem inspiração nenhuma.

Palavras e poesia estão sem acompanhamento.

Não por estar sem ter do que falar... assuntos não faltam nunca.
Não por estar triste, o que também traz inspiração.
Não por estar feliz, isso me leva a falar de situações diversas.

Talvez, por simplesmente não estar.
Por quê? Não sei.
Ou não queira Eu me contar, me entender, me saber.
E o meu colo, não sei...

Deixa estar, até as próximas linhas.

Natália Possas

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Expressio-arte



E o poema
É o que estou,
Embaraçado ao que vejo
Na bagunça dos sentidos.

No tempo em que o subjetivo era arte,
Depois da Guerra - a primeira,
Do Romantismo,
Num palco em que o coração corria
A angústia encontrava.

O real era reflexo,
Distorcia o que era tudo.
A sombra era todo do que o sentido era parte.

O Grito!
Medo de a razão abandonar,
Desassossego.

De Munch, a expressão sentia.
De Weine, criticava, distorcia...
E a essência... era o fragmento do que havia sido.

Natália Possas

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Desentendimento entendido


O que é lido deve se adequar ao contexto de quem lê, não ao de quem escreveu. Não tente entender a minha cabeça, nem a sua. Não tente! Sinta com o que você tem. O que eu sinto, não faz sentido para você, às vezes nem para mim. O meu mundo é muito diferente do seu, mesmo quando estamos juntos.

Leia, viva e crie o seu mundo! Compartilhe-o com os outros, mas permita que sejam espontâneos. Nada de impor suas regras! O que você pensa está certo para você. O que eu penso também pode estar certo, mesmo que sejam paradoxos. Qual é a ótica? Qual o sentido? Quem vai decidir? Todos têm o seu contexto, por isso nunca é igual. O que não quer dizer, que esteja errado.

Quanto mais opções, maiores as possibilidades de conhecimento. Eu posso querer te descobrir... isso é interessante, faz a imaginação trabalhar... simples assim! E por favor, não complique! Nem me confunda se confundindo! Isso não serve de defesa. Afinal, naturalidade é tudo!

Mas... e se os mundos se unirem?

Natália Possas

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Entrelinhas


No dia em que eu não falei,

O sorriso convidou mais,
O aconchego se atirou com o olhar,
Que encontrava o outro e dizia tudo.

No dia em que eu não falei,
Eu disse tanto!
Senti através do acorde,
Que soou com o gesto mudo.

No dia em que eu não falei,
A presença buscou a sombra,
Que é o reflexo do sentir,
Gesto do Eu que eu mesma nem sei,
E que faz exposição de mim sem permissão.

No dia em que eu não falei,
A expressão gritou!
Demonstrou a tradução que a voz não acompanha,
Fez sentir... entender tudo e nada...

No dia em que eu não falei,
Os sentidos eram gigantes com valores naturais.
O mesmo virou fração,
E o tudo, arte.

Natália Possas

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Convite

Vamos brincar de pique-esconde? Só que desta vez, com soldados. Não estes bonecos que os meninos costumam brincar de fazer guerras. Soldados de verdade, com armas reais, roupa camuflada e coturno.

Entretanto, se preferir continuar imaginando, podemos ir ao teatro. No caso abordado, o cenário é o Oriente Médio, mas, como não poderia deixar de ser, o Brasil não fica atrás. Porém, os figurinos são um pouco diferentes. Normalmente nada preocupados com a moda. Mas os objetos cênicos, como por exemplo, as armas... ah! Estes estão sempre muito bem atualizados! Os panos de fundo então? Uma maravilha! Pois normalmente, as cenas ocorrem em morros, onde há uma vista privilegiada de toda a cidade.

Contudo, não podemos nos esquecer da platéia, este público fiel, sempre assistindo a tudo, se emocionando ou não, mas sem sair do lugar. Afinal, amanhã tem mais.

Natália Possas

domingo, 14 de junho de 2009

Desassossego

Vontade de ir pra não sei onde...
E é por isso que eu quero.
Porque eu não sei.
Não sei tanta coisa...
Ah! Infinita ignorância!
O que sei de lugares vem dos livros, tv, internet...
Mas isso motiva a minha imaginação apenas.

O que quero saber vem de onde ainda não sei,
Pessoas que ainda não conheci,
Histórias que vão ser contadas a mim,
Ainda não sei por quem.

Cada pessoa representa tanto!
Tanta história, tanta vida, tanto conhecimento...
Não posso passar sem essa riqueza!

Os que conheço, os que amo, os que passaram por mim...
Ajudaram a me escrever, me descrever, me aprender, me decorar...

Mas ainda há tanto!
Tanto que ainda não sei,
Tanto que sinto imensa necessidade de saber!
Mas saber pessoalmente,
Pra continuar imaginado mais coisas que ainda não sei.
E buscar sempre o que ainda vou saber.

Viajar sem destino, sem ninguém.
Mas não sozinha!
O destino é guiado conforme a necessidade,
A companhia vem de todos.
Nunca estamos sozinhos.
Podemos ainda não conhecer as pessoas em volta,
Mas elas estão lá!

Só está sozinho quem não tem pra onde voltar.
Não tem por quem procurar.
E não se permite conhecer.

Há a todo o momento, descoberta com fantasia de gente!
Basta aprendermos a olhar por trás da fantasia.
Nenhuma é igual à outra.
Por isso ainda há tanto pra saber!

Enquanto ainda não posso ir,
Vou através dos livros,
Que me transportam,
Mas aumentam o meu desassossego.

Natália Possas

sábado, 13 de junho de 2009

Percepções

Tarde de sol, passeio. Há muito tempo não faço isso. Vi tantas coisas que não lembrava, e outras desconhecidas, pelo tempo que por ali eu não passava.

Cabeça fresca, expressões fechadas, passos apressados, sorrisos sem querer por pensamentos longe, roupas da moda - às vezes inadequadas - cumprimento de alguém que provavelmente me confundiu, trânsito, buzinas, falação, mais falação, celulares, bolsas, olhares, pensamentos, destinos, compromissos, ou a falta deles, histórias, encontros, descaso. Passos em direções idênticas com destinos e histórias singulares. Tanto em comum, traduzindo muita vontade de individualidade. Necessidade de ser diferente, pra ser igual. Ideologias copiadas. Ilusões pedidas. Gente usando a cidadania que ignora, para propagar sua falácia. Possibilidades e escolhas.

Embora não grave tão bem a paisagem, percebi lojas novas, e senti falta de um prédio que não estava mais lá. Fiz algumas compras, voltei para casa.

Natália Possas

Mas

E se o céu cantar por mim...
Estrelas em uníssono!
Alma do sentido, a canção.

Fragmento do que ainda está,
O brilho é prata do que já foi ouro.
E se o opaco for o sentido de agora...

Eu não vou querer por mim.
E se você lembrar que pode...

A canção se fez outra
Mas estático coração que não foi,
Sorri sem cor... de lembrar o que é,
Por não ser o que lembra.

Natália Possas