quinta-feira, 27 de maio de 2010

Bom Dia

O sol saiu tarde. Mas não deixou de clarear o dia. Por alguns instantes, ele aqueceu os sorrisos e fez carinho no rosto de quem estava triste. O vento fez companhia durante toda a tarde. Impulsionava quem estava cansado, e tornava mais leve e elegante o andar de todos.

Lila reclamou do frio. Essa foi sua única percepção naquele dia. Tentou escrever. Isso aliviava um pouco. Nada. Até que saiu um poema. Ela quase apagou, mas estava desmotivada pra isso.

À margem do que eu queria escrever,
Sinto.
Sei que não me quero mais.
Escrevo.
Penso no que sou.
Choro.
Não sou nada.
Agradeço o que tenho.
Tenho mais do que sei.
Tenho mais do que mereço.
Não sei nada.
Não faço.
Não peço.
Não sei.
Tantos merecem...
Tantos não têm.
Desperdício pra mim.

De tardezinha, uma chuva bem fina limpou a poeira das folhas, e dos sapatos de quem passava. Ela temperou a chegada da noite com cheiro bom, de terra seca recebendo o beijo das gotas de chuva.

Lila reclamou do penteado estragado. Esqueceu a sombrinha em casa. Nem era um penteado. Ela só secou os cabelos de qualquer jeito pela manhã. Mesmo assim praguejou a chuva.

A noite convidou o vento de volta. Ele chegou bem de leve, e soprou pertinho de quem estava agitado, pra refrescar, acalmar...

Lila colocou o cachecol. Vestiu o casaco pra espantar o frio. As roupas pesaram sua bolsa o dia todo. Lila mandou embora o vento, e todos os carinhos do dia. Hoje suas percepções estavam encapadas, lacradas. Deu um trabalhão esconder todas, mas Lila conseguiu.

Amanhã o dia vai se aprontar todo, outra vez, e mais quantas for necessário.

Natália Possas