segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Os sintomas do vento despretensioso

que leva imagens às mãos da artista,

transfiguram segundos não percebidos

por olhos treinados apenas pelo senso,

que é comum aos que abandonaram a reflexão.


Enquanto as palavras transbordam,

não importam as percepções descabidas,

sedentas de frases ao acaso dos olhares sem brilho.

Eles não aprenderam a sorrir pelo concreto

que ainda não se firmou.


O instrumento da arte,

vulgo artista,

sabe o que os outros precisam.

Não diz,

os ensina a sentir.


Natália Possas

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A poeta não sabe mais das palavras.

Os sentidos tentam não sair ao léu.


As imagens desenhadas por mãos

que há tempos desistiram da beleza,

são cruéis aos sorrisos ganhados.


Por hora,

sem mais palavras.

Apenas olhos cansados

em busca de paz.

Natália Possas

domingo, 25 de setembro de 2011

Voou até seus pés encontrarem o telhado da casa em frente.
Suas asas pediram mais.
Ele saiu do quadro que vive além da janela,
mas o seu rápido ballet
foi suficiente para as minhas palavras.

Natália Possas

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Sem mais palavras
que não sabem o que dizem,
mas querem
o que julgam,
antes do contentamento
desmedido.

Silhuetas que vão,
seguem seus donos
sem nunca entender porque os olhos piscam,
se é antes do brilho ou da lágrima.
Apenas porque sempre foi assim.

Natália Possas

sábado, 9 de julho de 2011

Intento desmotivado


Dó da pena que não cai
Esvaece
Contento que passou e ficou
Ato sucumbido
Sacramentado pela crença
velada
Sentida pelo insosso
verbo sem ação
Apenas
Mais uma
que é nenhuma
Sem nunca
Sem mais.

Natália Possas

quarta-feira, 18 de maio de 2011

O jeito de tocar o chão era
Muitos
Muitas
e tantos mais.

Eles são busca que vai se revelando,
novidades,
sentidos diferentes...

Um Andar não conhece o outro.
Não sabe o cheiro,
o toque do sorriso,
nem o peso das lágrimas.

Ela também não sabe.
Não os inventou.
Eles vão se criando,
contam a ela quem são.
Se mostram.

No chão que atrai a atenção de todos
Eles vão sem ela até o fim.
Depois desaparecem
e Seu rastro está guardado nas imagens
de quem foi tocado por Eles.

Então a Atriz volta pra casa.
Sozinha.
Mais uma vez.

Natália Possas

domingo, 1 de maio de 2011

O poema sussurrou,
pediu palavras suaves,
acalmou os Olhares molhados.

Dois Sorrisos guardados pediram canção de ninar.
Histórias que sabem seu rumo
sem saber as ruas.

Direções singulares
em busca de palavras que vivem
e deixam viver...

Os Olhares molhados só precisavam de Olhares que abraçam.

Natália Possas

terça-feira, 26 de abril de 2011

As lágrimas descansaram o sorriso.
O caminho da artista pesou.
Sentiu a força do que os outros não vêem,
do que os outros, sem saber, precisam que ela entenda.
Ela sabe o que precisa fazer.
Mesmo sem saber.

Os olhos do céu piscaram.
Deram aval às palavras.
As estrelas se uniram em manto
pra acalantar as sensações.


Natália Possas

quarta-feira, 9 de março de 2011

O sol abriu espaço na nuvem gigante em cima da janela. No meio fio, as crianças aprendiam a se equilibrar. Do outro lado, o cachorro chamava o dono emprestado, que nunca o alimentava. No caminho pra onde o movimento acontecia, o ritmo estava mais lento. Havia menos pés, menos direções. O cheiro era da chuva que passou. O som desacelerava o compasso, e as frases dessa vez eram em uníssono.

Essa foi a minha ida ao banco, na quarta-feira de cinzas.

Natália Possas

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Educação promissora

Prova, vestibular, questões objetivas, discursivas, metas, horários de estudo... Mas ele só tem 12 anos! Ótimo, quanto mais cedo melhor. É importante que as crianças, desculpe, os pré-adolescentes entrem no ritmo e se adaptem a ele. E se não souberem qual curso escolher, é só procurar um que tenham condições de passar.

Estamos produzindo, em larga escala, mão de obra qualificada em fazer provas. Mas e o raciocínio criativo? Ah esse a gente só precisa quando fala de arte. Afinal aprendemos desde cedo que esta não é uma área de conhecimento e sim um suporte para as disciplinas oficiais. Então o que é importante? Bom, alguns loucos dizem que é a educação pautada no desenvolvimento pessoal e social, que a riqueza não está em metas capazes de disciplinar um soldado que aprende como fazer o maior número possível de questões em menos tempo, e sim em saber compartilhar conhecimento sem receita pronta, estimulando o raciocínio, a capacidade crítica, criativa, e que é imprescindível fazer com que o aluno saiba ser um indivíduo social com laços de respeito, amizade e não apenas alguém que enxerga números ao invés de pessoas. Alguns mais doidos ainda se aventuram em dizer que a escola não deve ser uma indústria.

Mas e o vestibular? E o mercado de trabalho que quer nos engolir? E a necessidade de competição? As pessoas correm, tem pressa, o estresse hoje é permitido, tem o aval da sociedade. E quem não tem compromissos suficientes para estar estressado não se enquadra no padrão de sucesso.

Mas o que é sucesso? Bom, as definições atuais prezam pelos números. Vai aqui uma receitinha passo a passo para se enquadrar nos moldes: com urgência você deve ter vários telefones sempre ligados, internet on o dia todo, uma carga de trabalho que não lhe permita ter vida social e que mesmo assim, você não dê conta de cumprir todos os compromissos. Opa, agora você está quase lá. Se conseguir isso antes dos 23 anos está perfeito! Ah, e nunca se esqueça, quando alguém lhe perguntar sobre sua vida pessoal, tenha sempre na ponta da língua a resposta: o meu trabalho está em primeiro lugar!

Vencida esta etapa você está apto a se tornar um ser estressado. Aqui começam seus direitos e alguns privilégios, como, não precisar ser simpático, não se preocupar com a opinião e o bem estar de outras pessoas, nem dar atenção à família e amigos. Isso é bem tranqüilo: é só pensar que você tem motivos suficientes que lhe permitem ser assim, e por isso o resto do mundo precisa entender e lhe respeitar mais.

Mas, como tudo na vida tem reações adversas, nessa etapa você pode sentir algumas palpitações, desconforto, um peso muito grande nos ombros, entre outros sintomas. Mas aí basta tomar um remedinho antes de dormir que tudo se resolve, e ninguém vai lhe criticar por isso, pois esse direito foi conquistado com muito suor.

Parabéns! Se continuar nessa produção, em pouco tempo você vai se enquadrar nos padrões de sucesso e excelência profissional e consequentemente, todos terão orgulho desse número, quero dizer, desse indivíduo brilhante. Além disso, você terá acumulado uma renda que lhe possibilitará uma condição luxuosa, que certamente sua família aproveitará muito por você. Afinal, eles precisam suprir a sua ausência de alguma maneira. Então, só me resta desejar sucesso!

Natália Possas

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Oração tecnológica

Ave tecnologia cheia de graça... Cantora virtual fazendo sucesso no Japão, atriz robô, carros que dispensam o motorista, seleção com técnico virtual, e um robô que ainda precisa de uns ajustes, mas seu abraço... ah, parece o de uma pessoa de verdade. Este último, segundo o criador, servirá para encurtar a distância entre indivíduos que não podem se ver. Há um tempinho atrás as pessoas abraçavam ursos de pelúcia, e por incrível que pareça, abraçavam também outras pessoas. Mas, como tudo tem que evoluir, “que venha toda essa tecnologia”. Foi o que disse a apresentadora do jornal após entrar uma matéria sobre o assunto. De acordo com a matéria, a palavra da vez é “substituir”. Bem, se a regra é essa, nós pobres mortais não podemos decepcionar. Ficar em segundo plano? Parados no tempo? Nem pensar!

Claro que a tecnologia não é ruim. Pelo contrário, é indubitável que os avanços são benéficos. O problema é quando paramos de nos preocupar com pessoas, quando perdemos as referências e queremos sempre mais, mesmo sem saber para onde estamos indo. Com tanta cantora no mundo pra quê eu quero uma que não existe? Se bem que há muitas de carne e osso que também são fabricadas. Alguns aceitam se transformar em produtos, outros aceitam comprar... Então, um dia uma fada chega e deixa tudo mais real. E questionar isso dá um trabalho... Bem, na verdade parar pra pensar no assunto já é chato. Ah, deixe sua vida mais tranqüila, não se exalte com essas besteiras, aproveite as vantagens que isso pode lhe possibilitar.

E a coisa vai ficando cada vez mais interessante: o robô dito atriz fez uma peça de teatro no Japão. Uma artista humana, ao invés de subir ao palco ficou em uma sala dublando e transmitindo suas emoções para a nova colega de profissão. Qual a utilidade disso? Ah sim, devemos nos adaptar e gostar das novidades. Afinal, é para isso que fomos programados. A não, desculpe, os robôs é que são programados. Será que eles dão conta? Claro, o ser humano é capacitado o bastante para fabricar algo que possa substituí-lo de forma eficiente.

Enquanto tudo acontece lá fora, que a tecnologia possa livrar-nos de todo o mal, Amém.

Natália Possas