segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Oração tecnológica

Ave tecnologia cheia de graça... Cantora virtual fazendo sucesso no Japão, atriz robô, carros que dispensam o motorista, seleção com técnico virtual, e um robô que ainda precisa de uns ajustes, mas seu abraço... ah, parece o de uma pessoa de verdade. Este último, segundo o criador, servirá para encurtar a distância entre indivíduos que não podem se ver. Há um tempinho atrás as pessoas abraçavam ursos de pelúcia, e por incrível que pareça, abraçavam também outras pessoas. Mas, como tudo tem que evoluir, “que venha toda essa tecnologia”. Foi o que disse a apresentadora do jornal após entrar uma matéria sobre o assunto. De acordo com a matéria, a palavra da vez é “substituir”. Bem, se a regra é essa, nós pobres mortais não podemos decepcionar. Ficar em segundo plano? Parados no tempo? Nem pensar!

Claro que a tecnologia não é ruim. Pelo contrário, é indubitável que os avanços são benéficos. O problema é quando paramos de nos preocupar com pessoas, quando perdemos as referências e queremos sempre mais, mesmo sem saber para onde estamos indo. Com tanta cantora no mundo pra quê eu quero uma que não existe? Se bem que há muitas de carne e osso que também são fabricadas. Alguns aceitam se transformar em produtos, outros aceitam comprar... Então, um dia uma fada chega e deixa tudo mais real. E questionar isso dá um trabalho... Bem, na verdade parar pra pensar no assunto já é chato. Ah, deixe sua vida mais tranqüila, não se exalte com essas besteiras, aproveite as vantagens que isso pode lhe possibilitar.

E a coisa vai ficando cada vez mais interessante: o robô dito atriz fez uma peça de teatro no Japão. Uma artista humana, ao invés de subir ao palco ficou em uma sala dublando e transmitindo suas emoções para a nova colega de profissão. Qual a utilidade disso? Ah sim, devemos nos adaptar e gostar das novidades. Afinal, é para isso que fomos programados. A não, desculpe, os robôs é que são programados. Será que eles dão conta? Claro, o ser humano é capacitado o bastante para fabricar algo que possa substituí-lo de forma eficiente.

Enquanto tudo acontece lá fora, que a tecnologia possa livrar-nos de todo o mal, Amém.

Natália Possas

6 comentários:

Ricardo Bedendo disse...

Parabéns pelo artigo Natália. A dimensão humana deve ser sempre a referência para o uso da tecnologia. A convergência não está simplesmente na técnica, mas seu corpo se constitui principalmente por meio dos efeitos sociais que provoca nos indivíduos em suas interações, sejam estas no conhecimento do "eu" ou nas experiências compartilhadas com os "outros". Grande abraço e Feliz Ano Novo cada vez mais tecnológico!

Ricardo Bedendo

Levi disse...

"o ser humano é capacitado o bastante para fabricar algo que possa substituí-lo de forma eficiente". Como você consegue de maneira tão eloquente expressar um fenomeno tão abrangente e delicado!! Suas palavras são intensas e precisas, admiro tudo aquilo que voc~e escreve porque você sabe exatamente como fazê-lo, com uma precisão inquestionável e claro, com um estilo primoroso.

Unknown disse...

Amei
Além de abrangente e realista,voce consegue colocar suavidade em cada palavra.As pessoas perderam a emoãçao com a tal "tecnologia"...Mas como voce disse,nao podemos ficar parados no tempo...se paramos somos atrasados,se andamos estamos concordando,dificil ter uma opiniao nos dias de hoje...melhor,dificil...colocar emoçao,fazer "vibrar".Enfim,o que podemos fazer sem essa tecnologia.Sim podemos,e muito...Realmente um assunto curioso,porque ao mesmo tempo que perdemos nossas emoçoes(eu acho)as vezes dependemos dessa frieza da tecnologia...
Adorei o artigo,sabe que sempre fiquei intrigada com isso...Não concordo,porém "uso".
Parabéns Natalia,além de ser uma atriz extraordinaria,também escreve muito bem.

Ramirez dos Santos disse...

Inicialmente goaria de destacar o uso da palavra indubitável no segundo parágrafo... rsrsrs brincadeira.

Olha Nat, o q vc escreveu reflete bem o q vem acontecendo. O acesso a tecnologia está tão facil que a descartamos quando ela fica um pouco velha. Alguns tem feito isso com pessoas, esquecendo-se q pessoas não são uma combinação binária de 0 e 1. Resultado: uma sociedade com relações fragmentárias em que só me importo com meu próprio umbigo.

Como sempre, seu texto foi preciso, direto ao assunto. Parabéns e um pedido: aventure-se mais por esse estilo, vc manda mto bem.

Bjo!!

Erika Mayrink Vullu disse...

Parabéns pela ótima crônica, Natália! Adorei a intertextualidade que vc usou! Em relação aos poemas, amei o Suas Palavras! Que estética belíssima! Vc deveria pensar seriamente em publicar um livro de poemas! Bj.

Renata Vargas disse...

Depois de uma análise literária como essa feita pela Erika, só me resta dizer: quanto orgulho, gente!!! LINDO O TEXTO!!! Bjos!!