quarta-feira, 10 de junho de 2015

Cadê? Cadê os desenhos guardados que eu quero escrever? Cadê? Cadê as fugas, frases breves tolas, inóspitas cuspidas pela saudade de mim? Cadê o peito leve e puro que eu tenho  apenas uma lembrança muito distante. Cadê tudo que eu encontro em mim e escondo de novo. Cadê as lágrimas que antes eram fáceis. Cadê os sons e os cheiros.  Cadê as portas abertas dentro de mim. Cadê os pensamentos que eu afogo antes de saber. Cadê eu gritando com muita voz. Cadê o olhar bonito. Cadê o olhar feio. Cadê as sincronias tortas e felizes. Cadê a fome, o grito, o tesão e a vontade. Cadê os gestos e as gargalhadas. Cadê o sorriso largo pela rua. Cadê a coragem. Cadê tudo que eu não soube saber. Cadê as minhas, eu e os meus. Cadê os sons, urros e silêncios bons. Cadê a degustação do que o medo não percebeu. Cadê a espontaneidade escancarada, a doçura que olhava as paisagens de gente. Cadê o senso, não senso, contrassenso. Cadê o piano e o tambor. Cadê a fome pra saciar. Cadê os pés firmes que gostam de voar. Cadê tudo que eu sei pros outros e não uso. Cadê o que não sabem de mim. Não sabem. Cadê a parede de chapisco e o cheiro de flor. Cadê a gangorra. Cadê o que tá aqui e eu não consigo pronunciar. Cadê o fim que começa sempre. Cadê a presença real. Cadê a dissolução dos equívocos  criados dentro e fora. Cadê o basta do cadê. Cadê o cheiro, o gosto e o abraço. Cadê a mão que não sabe desenhar, mas gosta de sentir o vento. Cadê o vento no rosto. Cadê a resposta do corpo.  Cadê o diálogo e a reação. Cadê a merda, a lenha e o tosco. Cadê o palavrão motivado. Cadê o traço cheio de morros. Cadê o ar solto. Cadê a vontade, que sempre tem vindo apressada demais pra ficar. Cadê as rimas desapegadas que pararam de rimar. Cadê o fim da fuga. Cadê o que eu quero e o que eu preciso. Cadê o que eu nem consigo mais saber. Cadê o fim dessa porra desse texto que não para de achar um monte de coisas, mas não grita de verdade. Eu acho formas de fugas de mim até dentro das palavras.  Cadê a competência sendo usada pro que precisa. Cadê o cansaço do que foi feito. Cadê o fim das listas. Cadê a vontade de tudo. Cadê tudo que dá vontade. Cadê o que eu fiz com tudo que foi entendido aos berros. Cadê tudo que eu preciso pra terminar essas linhas?


Natália Possas

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