sábado, 22 de novembro de 2014

O que falar de amor,
de sonhos e sentidos,
de frases perdidas no meio da noite,
de linhas abertas
e de certezas que devem ir.

Certezas céticas e imutáveis
são pedaços de rabiscos corrigidos,
que nem sabem a que vieram,
nem o que fazer.
Só servem pra estagnar.
E quando são quebradas sem ser,
ganham lamentações descabidas.

Precisamos do ar limpo trazido
pelas possibilidades abertas,
das frases desalinhadas soltas ao virar da esquina,
das trocas de perfumes recebidas nos abraços,
dos ombros soltos,
das quebras reais,
da liberdade desapegada do que ainda nem conseguimos entender,
e dos gritos temperados dentro de nós.

Pra combater tudo isso,
nós criamos certezas cheias de crenças,
pudores e tabus antinaturais,
construídos em bolhas invisíveis que nos prendem,
suprimem,
encerram,
a cada pensamento que achou ter ido.

Somos soldados perfeitos
sem pensamento próprio,
que seguem o fluxo introjetado,
respirado,
transpirado,
imperceptível.
É isso que reforçamos a cada segundo dentro de nós.
É isso que seguimos,
idolatramos
e clamamos.

Não precisamos temer guerras.
Já aprendemos a não pensar faz tempo.
E soldados perfeitos não temem,
apenas combatem o que nem sabem existir.
Apenas seguem ordens, mesmo que insanas.
Apenas destroem o que não querem compreender,
e repelem, rejeitam o que poderia fazer bem.

Isso é o nada que estamos criando,
e que vai acabar com o tudo que não conseguimos nunca entender,
e muito menos sentir.
Pois se perceber a nós mesmos
já foi transformado em tarefa tão dolorosa,
porque buscar perceber algo maior?

Os heróis já foram fabricados
e outros virão.
Precisamos dos exemplos mais errados,
pois são eles que não exigem de nós raciocínio.
Seguir ordens é o nosso lema,
mesmo quando batemos no peito pra dizer que não o fazemos.

No mais, tudo nada mais é
do que segurar na mão de um Ser supremo,
que vai nos atender
e curar nossas necessidades imbecis,
e cada vez mais egoístas.

Se esse Ser é algo místico,
religioso,
político,
um herói,
ou um comandante de guerra,
tanto faz.
O importante é ter o que seguir
sem precisar de filtro,
raciocínio
e desafios próprios.

Natália Possas 

1 comentários:

Unknown disse...

devemos dormir em nosso leito e não acordar mais
se acordar, não levantar.
se há guerra lá fora,
o que importa?
há paz aqui dentro.