quarta-feira, 26 de novembro de 2014

À flor da pele.
Tanto que minhas palavras se amontoam
dentro de mim antes de saírem.
Se perdem no caminho,
minha pele responde,
eu assisto sem entender bem,
e vou reagindo com palavras mudas.

Nada nunca é igual,
nem as mesmas repetições,
os mesmos toques,
e os mesmos cheiros.
Eu não sou fiel às minhas certezas,
nem quero ser.
Não preciso de portos seguros,
nem de finais felizes.

Só quero sentir tudo que grita, mas ninguém vê.
À flor da pele,
dos toques,
dos sons,
dos cheiros,
dos sabores
e tudo mais.

Natália Possas

Por onde larguei minhas pegadas, ainda não sei.
A frase é clichê demais 
pra eu basear minhas bagunças perdidas nela,
ou minhas escolhas,
e meus olhares bons.
Ainda há tantos que precisam dos clichês.
Ainda há tantos que nem sabem que precisam de alguma coisa.

Não quero saber onde larguei nada.
Se larguei já não importa.
Estou parando cada vez mais de cultivar certezas,
de amontoar pronomes, substantivos e adjetivos.

Cansei de falar,
de escrever,
e de perceber um amontoado de coisas
obvias, inúteis e imbecis sendo tão idolatradas.
Cansei de ver os adultos se maltratando,
se entupindo de lixo intelectual e orgânico,
e deseducando a cada segundo seus filhos.
Cansei de ver os eufemismos criando bandidos.
Cansei de burrice escolhida, falta de educação e ego exacerbado.
Cansei de respirar as sandices unânimes.

Foda-se pro meu cansaço.
A indústria precisa progredir
e a autodestruição em massa não pode parar.
Ainda bem que existem as religiões, a política, o carnaval, a copa
os culpados, inocentes,
e as coisas que ninguém entende, mas que são assim e pronto.
Ao menos assim, todos podem dormir aliviados e felizes
por ter onde depositar suas esperanças de um mundo melhor.
Ufa!

Natália Possas

sábado, 22 de novembro de 2014

O que falar de amor,
de sonhos e sentidos,
de frases perdidas no meio da noite,
de linhas abertas
e de certezas que devem ir.

Certezas céticas e imutáveis
são pedaços de rabiscos corrigidos,
que nem sabem a que vieram,
nem o que fazer.
Só servem pra estagnar.
E quando são quebradas sem ser,
ganham lamentações descabidas.

Precisamos do ar limpo trazido
pelas possibilidades abertas,
das frases desalinhadas soltas ao virar da esquina,
das trocas de perfumes recebidas nos abraços,
dos ombros soltos,
das quebras reais,
da liberdade desapegada do que ainda nem conseguimos entender,
e dos gritos temperados dentro de nós.

Pra combater tudo isso,
nós criamos certezas cheias de crenças,
pudores e tabus antinaturais,
construídos em bolhas invisíveis que nos prendem,
suprimem,
encerram,
a cada pensamento que achou ter ido.

Somos soldados perfeitos
sem pensamento próprio,
que seguem o fluxo introjetado,
respirado,
transpirado,
imperceptível.
É isso que reforçamos a cada segundo dentro de nós.
É isso que seguimos,
idolatramos
e clamamos.

Não precisamos temer guerras.
Já aprendemos a não pensar faz tempo.
E soldados perfeitos não temem,
apenas combatem o que nem sabem existir.
Apenas seguem ordens, mesmo que insanas.
Apenas destroem o que não querem compreender,
e repelem, rejeitam o que poderia fazer bem.

Isso é o nada que estamos criando,
e que vai acabar com o tudo que não conseguimos nunca entender,
e muito menos sentir.
Pois se perceber a nós mesmos
já foi transformado em tarefa tão dolorosa,
porque buscar perceber algo maior?

Os heróis já foram fabricados
e outros virão.
Precisamos dos exemplos mais errados,
pois são eles que não exigem de nós raciocínio.
Seguir ordens é o nosso lema,
mesmo quando batemos no peito pra dizer que não o fazemos.

No mais, tudo nada mais é
do que segurar na mão de um Ser supremo,
que vai nos atender
e curar nossas necessidades imbecis,
e cada vez mais egoístas.

Se esse Ser é algo místico,
religioso,
político,
um herói,
ou um comandante de guerra,
tanto faz.
O importante é ter o que seguir
sem precisar de filtro,
raciocínio
e desafios próprios.

Natália Possas 

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Cheirinho bom chegou até aqui.
É o carinho doce de flor que o vento trouxe
à apreciação de quem resolveu perceber.
Agora veio um toque suave no rosto.
É que ele também manda carinhos de gente. 

Natália Possas

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Certezas que desprendem cada vez mais,
deixam o ar mais limpo,
a respiração desarmada, como eu nem sabia,
e os pés se deliciando no chão de pedras,
que não é sinônimo de nada ruim.
É que elas são bonitas e massageiam.

Cada sensação tem gosto de nova.
Pelo menos naquele momento,
depois, já não precisa mais.
Já é outra,
ou não.
Não importa.
Deixo as sensações à vontade
pra me fazerem sentir, confundir, descomplicar...

Tanta coisa não importa,
e agora, tanto importa.
Restrições diluídas param de se impor
até perderem a imagem
e deixarem de ser.

Os meus pensamentos guardam sorrisos pelas ruas,
que eu nem me lembro de ter passado.
Por isso eles sentem cada vez de um jeito,
e se importam cada vez menos.

Natália Possas

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

como colecionar carinhos

Dedinhos pediram pra tocar o vento.
Sem resposta resolveram senti-lo.
Que sorte a deles!
Quer também?

Natália Possas