terça-feira, 31 de dezembro de 2013

oração

Que todos nós
possamos conhecer cada vez mais
nossos motivos de valer a pena.
Sejam eles do tamanho do nosso amor,
da luz que habita nos sorrisos sinceros
ou da formiga que comeu meu doce hoje.

Que possamos cada vez mais
nos despir das condutas sociais imbecis (até hoje não conheci nenhuma que não fosse)
e das regras carregadas de preconceitos.
Quem sabe assim possamos conseguir nos vestir mais de nós mesmos
e respeitar mais nossas vontades reais e a dos outros.

Não precisamos de falsos pudores,
nem de respeito fabricado
repleto de ideologias que nos impedem de ser sinceros com nossos desejos.
Precisamos enxergar pessoas
ao invés de roupas, posições, gostos, cor, sexo, preferências e tanto mais.
E não me venha falar de preconceito e humanidade
sem antes saber exatamente o que isso significa.
Sem antes se entender, se perguntar, se questionar.
E muito menos venha dizer que as coisas melhoraram
e que o que está aí é assim porque é.

As coisas não melhoraram.
As pessoas é que passaram a aceitar mais.
O preconceito está nas vírgulas colocadas propositalmente nas frases inofensivas.
Deixe você.
Deixe o outro.
Deixe o que você pensou ser seu discurso.
Questione-se e você vai perceber que a maioria das suas palavras não são suas.
Só estão lá porque sempre foi assim.
Deixe-as.
Viva você.
Viva suas palavras, suas verdades.
Descubra-se.
Desvende-se.

Depois disso poderemos voltar ao assunto.

Natália Possas

sábado, 28 de setembro de 2013

Chamei meus amigos pra brincar de queimada e fazer piquenique no parque. Eles adoraram. Ainda não fomos, estamos tentando coincidir horários. Espero que paremos de tentar. A vontade de jogar queimada só aumenta. Talvez por isso se assustem quando eu digo que tenho quase trinta. Não pelo programa tachado com classificação para menores de doze anos, mas pela vontade apreciando o agradável, que me chama sempre, e mais um dia.

Não é uma questão de aparência. É simplesmente uma forma de precisar dos suspiros que o vento dá quando quer levar os nossos sorrisos até alguém, de precisar do chão e de saber que rolar nele faz bem pra alma. De brindar presentes que chegam das mãos de quem faz carinho, de amar com tesão e admiração. Outro dia uma aluna disse que eu andava sorrindo. É só o pavio dos meus sorrisos que é longo, e às vezes se estende até o próximo.

Pessoas não desrespeitam outras pessoas sem antes desrespeitarem elas mesmas. Eu simplesmente permito meus anseios quando eles precisam estar mais à vontade pra ficar feliz, sem ter que fazer relatório de motivos, necessidades, planos e consequências. Nem sempre eu consigo; às vezes preciso arrancar coisas inúteis dentro mim. 

Natália Possas

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

de onde vem a dança

O Passo queria ver a cor da estrada,
mas só podia sentir o cheiro,
estava perto demais pra enxergar algo.
Então começou a criar imagens com aromas.
Esqueceu que estava caminhando.

Dali em diante virou dança e foi deslizando pelas imagens.
Dizem que ele pode ser visto até hoje,
sempre que alguém se permite sentir.

Natália Possas

domingo, 8 de setembro de 2013

Nina manda beijos que voam como bolinhas de sabão.
Por onde passam deixam cor e pegam emprestados
os  sorrisos de quem olha pra eles.
Eles sempre cumprem seu caminho.

Ela os guarda nos abraços de algum desconhecido.
Nina sempre quis fazer muita gente feliz,
mas ela só tinha uns poucos conhecidos.

Então começou a colecionar beijos, 
que colecionavam sorrisos ,
que se criavam no aconchego dos abraços.

Se eu fosse você ficaria atento, 
porque eles sempre vão à procura de novos abraços!

Natália Possas

quinta-feira, 25 de julho de 2013

politizadas

As palavras cansaram de ficar à toa
e resolveram protestar contra a poeta aqui.
Tentei me fazer de desentendida,
mas nem o sono pôde vir em paz.

Ficaram cochichando nos meus ouvidos
palavras de ordem como verso e prosa.
Resolvi atender às reivindicações,
mas a greve delas me deixou sem argumentos
e só me restou fazer esse pronunciamento
assim sem muitas linhas.

Natália Possas

quinta-feira, 2 de maio de 2013


Vermelha.
E também um pouco desbotada.
Capenga.
Manca.
Mas ainda sim útil.
Pode ser restaurada e até ficar nova.
Por hora está bom.
Foi só o que uma cadeira velha mereceu de mim hoje.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

sintaxe

Meus pés tocam o chão com cuidado. Fui treinada pra isso. Somos todos. Fico triste quando percebo as vidas que não sabem sentir o vento e ainda o culpam pela direção errada e depois mandam a conta pra quem dizem acreditar e seguir. Ah se soubessem que quem chamam de Deus não rega preconceitos e nem paga contas alheias. Somos responsáveis pelas nossas alegrias e tristezas, pelas consequências delas e pelo que fazemos ou deixamos por conta disso. Somos responsáveis por nosso egoísmo, pelas mentiras que insistimos em acreditar, pela nossa falta de tolerância e pelo imenso preconceito que nos rege. Temos que parar de justificar e assumir mais. 

A conta de Deus é impossível de ser calculada. Eu que vivi tão pouco já não me recordo quantas vezes ouvi: “Deus lhe pague”, “se não foi é porque Deus não quis”, ou “Deus quis assim” e “coloca sua vida nas mãos de Deus que tudo vai se resolver”... e por aí se vão as palavras e as responsabilidades. Até há sim uma profundidade nessas palavras, se ao menos quem as profere percebesse o que de fato diz... mas normalmente são ditas como desresponsabilização. É fácil despachar a culpa dos próprios fracassos e erros pro outro, e se desabilitar da própria vida. Ainda mais quando esse alguém não vai reclamar pessoalmente, melhor ainda quando você pode dizer que foi ele que te ensinou a pensar assim e que você apenas segue as leis dele. Ele não vai te livrar de todo mal e muito menos te dar o pão de cada dia. Isso é responsabilidade sua. Não estou dizendo que Deus não existe. Apenas lamentando que ele sirva de argumento pra embasar as mesquinharias diárias de cada um. Acho que ele também lamenta.

Sei que não vou ver grandes mudanças, mas elas vão existir. Sei também que quanto menos cuidado meus pés têm ao tocar o chão, mais minhas palavras vão gerar desconforto. Sei ainda que as interpretações que damos ao que temos contato sempre vêm a calhar. O mal da humanidade é a humanidade. A solução também. Que Deus não lhe pague por ter lido isso e que você consiga tirar as próprias conclusões agora e para sempre. 

Natália Possas

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Vez ou outra as palavras pedem descanso. 
Eu finjo que deixo 
e elas sempre acham um jeito de falar.



Natália Possas

sábado, 26 de janeiro de 2013


Não pertenço a lugares,
pertenço a mim.
Vou aonde os sorrisos me chamam
e o barulho da chuva é mais sonoro.
Não quero as certezas pra sempre.
Preciso das dúvidas que mudam de ideia e de lugar.
Busco os cheiros fortes
dos pedaços de mundo que eu vou montando
sem que quase ninguém perceba.
Quero as dores do cansaço criado no balão
que eu inventei pra ter o que decorar.

Pertenço ao que eu permito pertencer,
porque era importante,
ou porque a vontade pediu.
As minhas certezas adoram dar cria.
Meus ideais se bastam com a minha aprovação,
mesmo quando quase ninguém acredita neles.
Falando francamente,
os ideais em que a maioria acredita 
costumam ser bem...
limitados (ah consegui não dizer burros!).

Natália Possas

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013


Às vezes o nome de algumas coisas muda quando eu as pronuncio.
Já chamei cadeira de elevador, TV de geladeira...
Não sei bem porque e nem quando isso acontece,
e é mais frequente do que eu gostaria.
Às vezes é engraçado.
Às vezes não.
Normalmente sai antes que eu perceba.
Já percebi tantas coisas que não disse.
Se eu disser tudo que eu percebo...
Já disse um monte de outras sem perceber.
Se eu percebesse tudo que eu digo...
Eu vivo encontrando novidades dentro de mim.
Algumas eu descubro já velhinhas,
outras acabando de nascer.
É bem provável que muitas passem despercebidas.
Dizem que a gente sempre sabe de si e sempre se entende.
Discordo.
Às vezes eu perco algumas cenas dentro de mim,
e como sou desorganizada acabo não encontrando.
Às vezes eu escrevo sem saber por que (como agora),
e até mesmo sem entender o que está escrito.
Nem tudo precisa ser entendido, encontrado, explicado.
Esse texto deve estar chato.
Não precisa terminar de ler.
Se quiser pode ir procurar as coisas perdidas dentro de você,
e me deixar aqui sozinha.
Não precisa mais me dar essa atenção.
Esse texto não merece.
São apenas palavras transbordando.
Não gosto de escrever coisas que acho ruins.
Mas às vezes é preciso,
porque dá vontade.
Isso já é motivo suficiente.
Se for o único já está de bom tamanho.
Se chegou até aqui, obrigada.
Até o próximo,
e que ele seja bem melhor.

Natália Possas