quinta-feira, 28 de maio de 2015

Palavras transbordando de quem precisa sentir vento, cheiro bom e olhares honestos. De quem ainda precisa que o silêncio e pés desacompanhados sejam respeitados. Estar só é tão diferente de solidão. Às vezes sinto o coração leve, e é nesse momento que as censuras são mais fortes. Em alguns momentos ainda permito que elas me toquem, em outros não.

Há tanta censura, que até quem diz não fazer parte, deixa suas pegadas nos olhares alheios. Percebemos no outro tanto do que precisamos perceber em nós. Os contextos mudam, mas as raízes estão lá compartilhadas. Temos uma lente pra cada situação. Alguns usam as mais grossas sem se dar conta. Outros usam as lentes que deixam a realidade quase como ela é, porque as lentes mais finas, por vezes permitem certezas que chegam antes da real percepção desapegada, e as lentes são trocadas com muita facilidade.

Pra se encher de você, é preciso esvaziar as porções de mundo desenhadas pelas consciências coletivas, que você também faz parte e ajuda a construir. Há mais ilusões do que nossa noção de realidade e tempo podem compreender. Quando conseguir isso, é hora de esvaziar o que acredita ser você.

Há tanta criação, ausências falsas e subterfúgios. Há tantas certezas criando cascas. Há tanto eu perdido de si. Há tanto tudo resumido a nada. Algumas cascas são quase intocáveis. Nós as fazemos assim. Essas são as que precisam ser quebradas, desapegadas. Existem também as superficiais, cheias de besteirinhas, facinhas de romper. Essas estão longe de ser o toque íntimo. Pessoas criam cascas superficiais pra terem a consciência tranquila de estarem quebrando algo.

Há tanto medo, realidade criada, aceita e vestida. Perceber isso nos mostra o quanto nos distanciamos de nós,  pra sermos mais uma consciência a construir e compartilhar essa realidade que todos acreditam e vivenciam. E é quando decidimos quebrar, nos desvestir de tudo, que o medo nos conta seus segredos e nos faz querer ficar. E ele não vem sozinho, ele sabe o que incomoda.

A ideia de quebra nos ajuda, nos faz revirar e perceber muito. Mas ela também é criada. A parte de nós que precisamos tocar está além de tudo isso e não requer grandes aventuras e esforço pra chegar. Temos que permitir que o medo vá, e tocar o que sempre esteve lá.


Natália Possas

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Quanta ilusão cabe nas direções que se formam em uníssono; quanta falta, fome e ausência de si; quantas novas construções que são as mesmas e só servem pra reafirmar o que deveria ser aniquilado. Somos tão mais fortes que esse sono, e esconder isso dá trabalho, causa fugas, sofrimento e doenças. Quanta energia a força contrária. Contra o outro? Contra o mundo? Nunca contra você, não é mesmo? Qual a diferença? 

Se pudessem ver a teia, se pudessem ao menos senti-la...

Natália Possas

segunda-feira, 25 de maio de 2015

O tempo desviou de si
e me contou seus dessincronismos sincronizados.
O instante se desconstruía diante dos olhos
que teimavam ainda em tentar entender.

Os tempos todos estavam
brincando de desconstrução.
Tão leve que nossas definições
não são capazes de sentir nem mesmo o toque.

E eu que ia e vinha, ainda sem controle,
fui desfiando o tempo que deixou de ser,
pra ser enfim. 

Natália Possas