Meus
pés tocam o chão com cuidado. Fui treinada pra isso. Somos todos. Fico triste
quando percebo as vidas que não sabem sentir o vento e ainda o culpam pela
direção errada e depois mandam a conta pra quem dizem acreditar e seguir. Ah se
soubessem que quem chamam de Deus não rega preconceitos e nem paga contas
alheias. Somos responsáveis pelas nossas alegrias e tristezas, pelas
consequências delas e pelo que fazemos ou deixamos por conta disso. Somos
responsáveis por nosso egoísmo, pelas mentiras que insistimos em acreditar, pela
nossa falta de tolerância e pelo imenso preconceito que nos rege. Temos que
parar de justificar e assumir mais.
A
conta de Deus é impossível de ser calculada. Eu que vivi tão pouco já não me
recordo quantas vezes ouvi: “Deus lhe pague”, “se não foi é porque
Deus não quis”, ou “Deus quis assim” e “coloca sua vida nas mãos
de Deus que tudo vai se resolver”... e por aí se vão as palavras e as
responsabilidades. Até há sim uma profundidade nessas palavras, se ao menos quem as profere percebesse o que de fato diz... mas normalmente são ditas como desresponsabilização. É fácil despachar a culpa dos próprios fracassos e erros pro
outro, e se desabilitar da própria vida. Ainda mais quando esse alguém
não vai reclamar pessoalmente, melhor ainda quando você pode dizer que foi ele
que te ensinou a pensar assim e que você apenas segue as leis dele. Ele não vai
te livrar de todo mal e muito menos te dar o pão de cada dia. Isso é
responsabilidade sua. Não estou dizendo que Deus não existe. Apenas lamentando
que ele sirva de argumento pra embasar as mesquinharias diárias de cada um.
Acho que ele também lamenta.
Sei que não vou ver grandes
mudanças, mas elas vão existir. Sei também que quanto menos cuidado meus pés têm ao tocar o chão, mais minhas palavras vão gerar
desconforto. Sei ainda que as interpretações que damos ao que temos contato
sempre vêm a calhar. O mal da humanidade é a
humanidade. A solução também. Que Deus não lhe pague por ter lido isso e que
você consiga tirar as próprias conclusões agora e para sempre.
Natália Possas